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À direita o coturno, à esquerda o cacetete... Para onde correr?

  • Foto do escritor: Imob Rio-Brasil
    Imob Rio-Brasil
  • 1 de set. de 2024
  • 6 min de leitura
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Tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita detém argumentos elaborados para convencer seus seguidores a embarcar em seus projetos de poder. Os dois modelos foram pensados cuidadosamente para alcançar o poder e lá permanecer. Qualquer promessa de restauração, salvação, reestruturação democrática é válida para convenver seus simpatizantes, facilitando assim o sucesso da empreitada que uma vez exitosa se volta radicalmente contra os interesses da população.

Uma das táticas mais eficazes desde os tempos dos reis absolutistas é de fato a dissimulação.

No contexto das repúblicas ou mesmo das chamadas monarquias constitucionais, notadamente no período pós guerra, a técnica da dissimulação encenada pelo candidato do momento consiste em fingir que apoia as causas mais caras à coletividade para tentar emplacar votos a fim de se eleger.

No entanto, após verificar a impossibilidade de vencer uma eleição, o candidato se insurge contra a derrota, normalmente através da propagação de mentiras sobre o processo eleitoral. De outro lado, quando vencem a eleição, os extremistas tratam de iniciar alterações de ordem administrativa na máquina pública e o que é ainda mais grave, iniciam uma cruzada contra os mecanismos democráticos de opinião pública para garantir um sistema de perpetuação do projeto de poder.

Invariavelmente as extremas direita e esquerda iniciam sua cruzada de poder se concentrando em alvos como os agentes da imprensa e os adversários políticos.

Mas logo se voltam para os órgãos de controle, considerados elementos chaves da ação predatória dos déspotas.

Cortes constitucionais, eleitorais, magistratura e o ministério público até sua cúpula são os alvos mais cobiçados.

Obviamente como não podia deixar de ser, o elemento definidor de blindagem, o controle mesmo que somente ideológico das forças de segurança, aqui em sua acepção mais ampla, englobando as forças armadas, as polícias e demais agentes armados são o sonho de consumo de todo déspota, pois quando tudo mais falhar serão elas que se encarregarão da necessária repressão estatal para calar a dissidência.

Os modelos são apenas dois, os métodos variados, o resultado sempre um só: a ditadura.


Os dois modelos de dominação

Tomada do poder pela força: neste modelo normalmente ocorre um golpe de estado armado, seguido da deposição do líder e aparelhamento estatal pela força supostamente revolucionária, que no mais das vezes é apenas um grupo de oposição armado atuando por meio da força.

Exemplos: Fidel Castro em Cuba -1959 - ditaura de esquerda; Castello Branco no Brasil - 1964 - ditadura de direita; Augusto Pinochet no Chile -1973 - ditadura de direita; Salazar em Portugal - 1933 a 1974 - ditadura de direita. Franco na Espanha - 1939 a 1975 - Ditadura de direita.


Tomada do poder via eleições democráticas: neste modelo o déspota se elege ou é nomeado prometendo o que for necessário para conseguir votos dentro de um pleito democrático ou prometendo servir o líder nomeante. Exemplos: Adolf Hitler nomeado chanceler da Alemanha - 1933 - início da ditadura de direita nazi/fascista alemã; Hugo Chavez na Venezuela - 1999 - ditadura de esquerda; Wladimir Putin na Russia - 1999 - ditadura de direita; Recep Erdogan na Turquia - 2014 - ditarura de direita; Nicolás Maduro na Venezuela - 2013 - ditadura de esquerda;  Daniel Ortega na Nicarágua - 1979 - ditadura de esquerda;


Tentativas fracassadas ou em andamento

Existem os que apenas tentaram emplacar seus projetos de poder autoritário, mas foram derrotados ou ainda se encontram trabalhando para alcanaçar o máximo êxito.

Exemplos: Viktor Orban na Hungria - 1998 - projeto em estágio avançado de ditadura de direita; Jair Bolsonaro no Brasil em 2018 - projeto interrompido do que viria a ser uma ditadura de direita; Giorgia Meloni na Itália - 2022 - início do projeto pós-fascista de extrema direita ainda em andamento.


Meios utilizados para a manutenção do poder ditatorial

Ameaça de extinção de concessões das emissoras de TV e radio opositoras ao regime.

Nomeação de juízes em colegiados principalmente de esferas federais.

Nomeação de integrantes do MP, sejam estaduais ou federais para a impedir que ações penais sejam iniciadas.

Domínio de órgãos de controle fazendário e de compliance.

Fragilização do sistema eleitoral a fim de criar meios não auditáveis de inserção, alteração ou eliminação de dados.

Compra de parlamentares com instrumentos de distribuição de verba pública. O exemplo mais recente no Brasil são as chamadas emendas secretas negociadas diretamente entre Jair Bolsonaro e Arthur Lira, presidente da câmara dos deputados.

Na verdade as emendas secretas foram uma tentativa de levar ao extremo algo que já era abjeto, as emendas parlamentares. Em seu novo formato, no entanto, Bolsonaro e Lira articularam o maior projeto de cooptação do parlamento desde o mensalão do PT.

Mais uma vez coube ao judiciário chamar o feito à ordem para frear o abuso político.

Assim como ocorreu na época do mensalão, em que o Ministro Joaquim Barbosa do STF sofreu enorme pressão por sua postura indepedente, no atual freio de arrumação protagonizado pelo Ministro Flavio Dino, o mesmo fenômeno tem lugar. A pressão vem de todos os lados.

Uma outra conquista de Bolsonaro em desfavor da república foi a nomeação do um PGR - Procurador Geral da República - que o blindou diantes dos vários crimes cometidos durante a sua gestão, jamais transformados sequer em inquéritos pelo PGR amigo. Essa tática de blindagem no nascedouro da ação penal foi aplicada com êxito por Hugo Chavez na Venezuela e por Fernando Henrique Cardoso no Brasil.

No caso de Lula, que não adotou a tática chavista, Roberto Gurgel, PGR do mensalão e Rodrigo Janot, PGR da lava jato, não tiveram qualquer impedimento para enquadrar os petistas. Mas isso se deu porque ao contrário de Temer e Bolsonaro, Lula sempre acolheu a indicação via lista tríplice do MP para nomear seu PGR. Mas isso mudou. Após a saída de Augusto Aras, o PGR de Bolsonaro que encabeçou a fase mais rasteira e desonrada da história do MP no período pós Constituição de 88, Lula não mais seguiu a lista tríplice do MP, nomeando o PGR Paulo Gonet, co-autor dos livros de Gilmar Mendes, alguém tido como aliado próximo. Lula decidiu não mais correr riscos sendo "gente boa" com o MP.

Considerado como protagonista de um esquema de corrupção avassalador, Lula tenta se cercar de aliados para obter algum tipo de blindagem após ser condenado e preso.

Apoiador da ditadura venezuelana e "neutro" quanto aos autocratas da Rússia, China e Irã, Lula é o exemplo de populista "amigo do pobre" e do trabalhador, mas que na verdade se tornou um homem rico com a política, situação que sugere uma contradição em termos.


Mas qual é a moral da história, como ficam os freios e contrapesos?

De forma bem sitetizada pode depreender-se que os freios e contrapesos de uma democracia na prática se dão de forma bastante orgânica e até mesmo visceral em alguns momentos. Vejamos.

Observa-se que tanto o déspota de esquerda quanto o de direita conseguem êxito em seus projetos ditatoriais quando atraem e conquistam as forças de segurança armada e assim o domínio do monopólio da violência estatal.

O refinamento do projeto de poder se dá com a cooptação do parlamento e do judiciário.

De posse do monopólio dos órgãos de repressão estatal o déspota consegue emplacar a sua vontade em qualquer esfera, utilizando-se do medo como forma mais básica de domínio.

Hodiernamente, inclusive, calar a imprensa televisiva se tornou menos importante do que exercer o domínio sobre redes sociais através da técnica da propaganda de Goebles aplicada ao universo digital.

A lavagem cerebral inunda as mentes desescolarizadas da classe média brasileira, que detentora de um baixíssimo nível cultural acaba se tornando "gado" de gente como Bolsonaro, Lula e outros vendedores de sonhos.

Outro refinamento tentado no Brasil por Bolonaro e levado a cabo na Russia, Venezuela e China com sucesso foi a formação de uma elite abastada próxima ao centro de poder, que seria em tese formada pelo "velho da havan" multiplicado por centenas de empresários bem sucedidos, encarregados de serem os batiões de uma faxada liberal que serve de moldura para um mosaico aparentemente próspero e bem dirigido por um govarnante "amigo do capital".

As imagens de Putin na Rússia em seus discursos para plateias de ricos prontos para aplaudi-lo seja qual for o teor de sua fala, enche os olhos dos aspirantes a déspotas como Bolsonaro, que sonham com o dia em que estarão cercados de milionários concordando com tudo que ele fala, um judiciário amordaçado e uma população entregue aos desígnios do donos do dinheiro, já que segundo os influencers vendedores de sonhos da atualidade, o mindset dos ricos é diferente dos pobres e por isso são ricos, "aprendam com eles!".

O mundo das falácias agora é um mundo cheio de vácuos culturais que os extremistas tentam preencher com seus projetos de poder renovados a cada nova geração golpista.

Há que se observar até quando o senso comum do centro democrático vai conseguir manter uma estrurura de poder eclética que permita a sucessão pacífica de ideias e matizes ideológicos sem extremismos e retrocessos.


















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